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Numa certa tarde de terça ensolarada, num bairro periférico da capital da indústria do meio-oeste catarinense, levantada no berço do Contestado, cujo coronelismo ainda sobrevive empacando a vida dos menos assistidos pelo sistema, acontece de tudo…
A Albino Phelipe Potrich, maior avenida de Caçador, que corta o bairro Martello do presídio até a rodovia, por muitas vezes, é palco de “grandes produções de áudio” amadoras reproduzidas pelos alto-falantes dos carros de som que vendem de tudo: Já passou por aqui o carro do ovo, da coxinha, das meias e cuecas, dos doces e salgados, dos cintos e carteiras, do chocolate, da coleta de materiais recicláveis… (Aliás, este último, de acordo com o panfleto entregue nas casas, deveria passar toda quarta-feira, mas há mais de uma semana, uma caixa com recicláveis espera, ansiosamente pela coleta na calçada…)
Pois bem… Um carro de som me chamou a atenção, especialmente neste dia… O carro do sorvete. Mas o que mexeu com este cérebro não foi o produto, e sim a música de fundo. Uma canção Evangélica que eu já escutei outras vezes, porém não tinha dado a devida atenção à letra… Pois bem, abri o aplicativo de música e ouvi com atenção o louvor chamado: Viúva sem nada… Fala de uma mulher viúva que cuida sozinha de seus filhos e, apesar de tanto esforço ainda passa necessidades, além de ser apontada e discriminada por todos...Mas as palavras do profeta lhe dão esperanças dizendo que tudo vai mudar e vai viver na fartura… (Meus amigos evangélicos me perdoem caso eu tenha interpretado errado…)
Linda canção… Só me parece que não combina para vender sorvete, mas enfim, palavras de edificação Espiritual são sempre bem-vindas… Aliás, já ouvi louvores movimentando o carro do ovo, até faz sentido, já que o ovo é símbolo de fertilidade e vida para algumas religiões e merece um louvor…
De qualquer forma, é milhões de vezes melhor do que ouvir aquelas canções pedindo pra sentar (E não se trata de sentar numa cadeira para descansar, tomar sorvete, ou comer ovos vendidos pelos carros de som…)
É muito lindo usar louvores para vender sorvete, coxinha, ou ovos… Espero que a Palavra de Deus não seja usada para obter lucro. Ainda bem que isso não acontece na maioria das Igrejas… (???)…
A minha pergunta é a seguinte, caro leitor, cara leitora: Qual seria sua reação se, nos carros de som que vendem de tudo se ouvisse um cântico Católico, exaltando os anjos e Santos?… E se fosse uma música recitando o Alcorão?… Um mantra Budista?... Um batuque de Umbanda, ou Candomblé?… Uma letra que cantasse trechos da Doutrina Espírita?…
Em todos esses casos, agiria com respeito e naturalidade, ou se levantaria para condenar, baseado na sua doutrina?…
Se a sua religião te leva a condenar outras manifestações religiosas, algo está errado…